quarta-feira, 30 de setembro de 2009
sábado, 12 de setembro de 2009
DOIS (PÁSSAROS DE SANGUE - AS HISTÓRIAS DO VAMPIRO LUCAS)
A madrugada trazia um sereno que gelaria uma pessoa até os ossos. Já não sou uma pessoa. Pelo menos não uma pessoa comum. Sou bem menos que isso. Nem a fina garoa nem a insônia me incomodam. O que me atormenta é a fome. Uma fome que vem com a mudança da lua. Nesses dias é quase impossível me controlar.
Ando pelas ruas sujas. Procuro por alguma alma infeliz. Meus olhos só vêem vermelho. As vítimas mais fáceis são as prostitutas. Ninguém perde tempo investigando a morte de uma puta ou de um travesti. Na verdade eu sou o menor dos problemas para eles. A cidade está cheia de outros vampiros ─ bem mais famintos ─ na pele de policiais corruptos, traficantes, gigolôs inescrupulosos, clientes violentos, assaltantes desesperados pela falta de crack, aids. Sou minoria nessa lista.
Quem acha que a vida dessas pessoas é cheia de glamour precisava dar uma volta comigo e conhecer algumas amigas. Já é bastante duro sem o frio. Não pense que sinto pena. Muito pelo contrário. Cada um faz suas escolhas.
Nenhuma profissão cobra um preço tão alto como essa. Não estou falando daquelas que nasceram com sorte. Estou falando da grande maioria que tem que se virar para não morrer de fome, não ser despejada e outras delícias que só uma cidade grande pode proporcionar.
Meus pensamentos ajudam a dominar a fome. Avalio meticulosamente minhas prováveis presas. Quando estou assim não consigo pensar em sexo só em sangue. Um sangue gasto e envenenado mas ainda assim saboroso. Vendo por esse lado o vírus transmitido pelo sangue não amedronta. Mesmo para a doença mais letal é difícil matar o que já está morto.
A chuva aumenta. Nas ruas só ficaram os muitos miseráveis que moram nos lugares mais improváveis. Pontes, caixotes, cantos, becos, marquises, qualquer lugar transforma-se em uma cínica caricatura de lar. A cidade é a grande prostituta. Queria poder arrancar-lhe a jugular e matá-la. É como um ser vivo que respira e se alimenta. Um ser amoral mas muito poderoso. Poder, luxuria e dinheiro. Mas ao mesmo tempo é o meu lugar. Onde eu me sinto em casa. Onde eu gosto de viver.
─ O cavalheiro não gostaria de entrar. Tenho um petisco interessante para alguém de classe...
Não sei se foi o jeito de falar ou um certo ar irônico que me fez parar e entrar por aquela porta. Nada dentro daquele lugar me faria ficar impressionado. Muito menos o tal petisco. Foi o instinto. E, junto com a fome, tornaram o convite irresistível.
Acompanhei o estranho senhor por um longo corredor.
─ Antes de entrar por essa porta gostaria de acertar alguns detalhes com o cavalheiro... ─ Tirei um punhado de notas do bolso.
─ Isso deve bastar para os detalhes...
─ Como eu imaginava. Um cavalheiro muito generoso!
─ Espero que eu realmente goste.
─ Nunca houve reclamações de nossos entretenimentos. ─ Abriu uma porta que dava para uma sala vazia e redonda que dava para outras portas.
─ Escolha uma única porta e entre. ─ Sorriu com dentes pontiagudos.
Sabia que tinha alguma coisa errada. O pequeno demônio sabia do que eu precisava e trocou por dinheiro. Até as hostes do inferno estavam ficando decadentes. Também o que mais ele poderia querer de mim? Nem alma eu possuo mais.
Pousei minha mão em uma das maçanetas e abri a porta vagarosamente. Duas crianças sentadas uma em cada lado da cama. Estavam nuas e quando me aproximei notei que eram um casal de gêmeos. Me olhavam com a indiferença de quem não tem mais nada a perder.
─ Nos disseram que nosso cliente hoje seria especial. Você não parece especial. ─ Me falou o menino com uma segurança que contrastava com sua delicada tez branca.
─ Não fala assim com ele! Lembra do último que você irritou?
─ Por mim tudo bem... ─ Interrompi o diálogo fazendo com que se calassem.
─ Ninguém conta nada pra gente...- disse a menina um tanto angelical ─ Só que você era especial e depois não precisaríamos mais fazer coisas feias com ninguém!
Me aproximei dos dois e observei a beleza daquelas alvas criaturas.
─ O sangue de vocês será meu alimento.
─ Não entendi...
─ Sua boba não tá vendo que o cara é um tarado maníaco assassino!! É por isso que nós não vamos mais precisar trabalhar ele vai acabar com a gente!
Ela lançou um olhar febril de puro excitamento. Toda aquela fragilidade não passava de uma casca de sedução. Os dois já estavam corrompidos. Não existe alma que fique tanto tempo perto dos demônios que não apodreça.
─ Você vai matar a gente?
─ É claro que vai!! Olha a cara dele!
─ Exatamente... ─ Comecei a me aproximar. Não senti o medo, mas uma outra forma de prazer.
─ Você vai se aproveitar da gente antes?
─ Por que eu me aproveitaria se estou com fome?
─ Como assim fome? ─ perguntou a incrédula menina.
─ Que horror!! O cara é um canibal!
─ Não... Comprei o sangue de vocês!! ─ Queria dar um fim naquela conversa surreal!
─ Então você vai morder o meu pescoço!
─ Só o seu não!! O meu também!! Merda...
─ Você não vai atender a um último pedido da gente?
─ Ela tem razão nós nunca fizemos isso com um... vampiro... se é que você é um vampiro mesmo!
─ O que vocês poderiam querer de mim?
─ Você faz sexo?
─ Ficou louca? ─ Gritou o garoto ─ O cara quer matar e tomar o meu sangue e você ainda quer trepar com ele?
─ Você dois vão fazer comigo!! Se é minha última vez que seja muito boa!
O garoto balançava a cabeça de um lado para o outro. Discordava da irmã mas era completamente dominado por uma estranha força que a menina emanava.
─ E quando eu estiver chegando ao fim você me morde!! Quero sentir o prazer e a dor ao mesmo tempo! Orgasmo e morte!!
Fiquei imaginando quantos anos aquela menina teria e o quanto ela já havia passado para chegar a esse tipo de conclusão.
Era uma chance tentadora. Mesmo para mim aquela era uma oportunidade rara.
Controlei a fome e me entreguei ao estranho prazer daqueles gêmeos. Deixei que línguas percorressem meu corpo. Percorri os dois corpos com língua e dentes. Penetrei naqueles corpos imberbes e me deixei penetrar por eles.
Não suportando mais mordi o pescoço do menino que não teve tempo de gritar. A gêmea encarou meu rosto manchada de vermelho e sorriu para mim . Alisou o corpo do irmão.
─ Pobrezinho...Ele não entende que só assim a gente podia fugir!
─ Você o amava?
─ Como só dois gêmeos poderiam... Por favor, agora é a minha vez! Venha!
Penetrei novamente em seu corpo e aguardei a ordem que ela daria quando estivesse pronta. Pouco antes do orgasmo eu mordi. O sangue e sexo. Foi como se eu estivesse tirando sua virgindade. O que de certa forma poderia estar acontecendo.
O gosto metálico e um pouco adocicado do seu sangue foi uma das coisas mais deliciosas que provei. Mordi seu sexo também para extrair dele um novo sabor. Era boa aquela mistura dos nossos corpos com sangue.
Minhas mãos e meu rosto eram de um vermelho vivo e brilhante.
Olhei aquelas duas lindas criaturas que se misturavam dentro do vermelho vivo do sangue fresco.
Sai do quarto e não encontrei mais o velho porteiro. Já esperava isso. Apenas toalhas brancas e limpas. Uma bacia de água. Lavei o sangue de meu corpo e, saciado, encontrei a noite se despedindo. Tinha que me apressar para chegar em casa antes do sol.
Ando pelas ruas sujas. Procuro por alguma alma infeliz. Meus olhos só vêem vermelho. As vítimas mais fáceis são as prostitutas. Ninguém perde tempo investigando a morte de uma puta ou de um travesti. Na verdade eu sou o menor dos problemas para eles. A cidade está cheia de outros vampiros ─ bem mais famintos ─ na pele de policiais corruptos, traficantes, gigolôs inescrupulosos, clientes violentos, assaltantes desesperados pela falta de crack, aids. Sou minoria nessa lista.
Quem acha que a vida dessas pessoas é cheia de glamour precisava dar uma volta comigo e conhecer algumas amigas. Já é bastante duro sem o frio. Não pense que sinto pena. Muito pelo contrário. Cada um faz suas escolhas.
Nenhuma profissão cobra um preço tão alto como essa. Não estou falando daquelas que nasceram com sorte. Estou falando da grande maioria que tem que se virar para não morrer de fome, não ser despejada e outras delícias que só uma cidade grande pode proporcionar.
Meus pensamentos ajudam a dominar a fome. Avalio meticulosamente minhas prováveis presas. Quando estou assim não consigo pensar em sexo só em sangue. Um sangue gasto e envenenado mas ainda assim saboroso. Vendo por esse lado o vírus transmitido pelo sangue não amedronta. Mesmo para a doença mais letal é difícil matar o que já está morto.
A chuva aumenta. Nas ruas só ficaram os muitos miseráveis que moram nos lugares mais improváveis. Pontes, caixotes, cantos, becos, marquises, qualquer lugar transforma-se em uma cínica caricatura de lar. A cidade é a grande prostituta. Queria poder arrancar-lhe a jugular e matá-la. É como um ser vivo que respira e se alimenta. Um ser amoral mas muito poderoso. Poder, luxuria e dinheiro. Mas ao mesmo tempo é o meu lugar. Onde eu me sinto em casa. Onde eu gosto de viver.
─ O cavalheiro não gostaria de entrar. Tenho um petisco interessante para alguém de classe...
Não sei se foi o jeito de falar ou um certo ar irônico que me fez parar e entrar por aquela porta. Nada dentro daquele lugar me faria ficar impressionado. Muito menos o tal petisco. Foi o instinto. E, junto com a fome, tornaram o convite irresistível.
Acompanhei o estranho senhor por um longo corredor.
─ Antes de entrar por essa porta gostaria de acertar alguns detalhes com o cavalheiro... ─ Tirei um punhado de notas do bolso.
─ Isso deve bastar para os detalhes...
─ Como eu imaginava. Um cavalheiro muito generoso!
─ Espero que eu realmente goste.
─ Nunca houve reclamações de nossos entretenimentos. ─ Abriu uma porta que dava para uma sala vazia e redonda que dava para outras portas.
─ Escolha uma única porta e entre. ─ Sorriu com dentes pontiagudos.
Sabia que tinha alguma coisa errada. O pequeno demônio sabia do que eu precisava e trocou por dinheiro. Até as hostes do inferno estavam ficando decadentes. Também o que mais ele poderia querer de mim? Nem alma eu possuo mais.
Pousei minha mão em uma das maçanetas e abri a porta vagarosamente. Duas crianças sentadas uma em cada lado da cama. Estavam nuas e quando me aproximei notei que eram um casal de gêmeos. Me olhavam com a indiferença de quem não tem mais nada a perder.
─ Nos disseram que nosso cliente hoje seria especial. Você não parece especial. ─ Me falou o menino com uma segurança que contrastava com sua delicada tez branca.
─ Não fala assim com ele! Lembra do último que você irritou?
─ Por mim tudo bem... ─ Interrompi o diálogo fazendo com que se calassem.
─ Ninguém conta nada pra gente...- disse a menina um tanto angelical ─ Só que você era especial e depois não precisaríamos mais fazer coisas feias com ninguém!
Me aproximei dos dois e observei a beleza daquelas alvas criaturas.
─ O sangue de vocês será meu alimento.
─ Não entendi...
─ Sua boba não tá vendo que o cara é um tarado maníaco assassino!! É por isso que nós não vamos mais precisar trabalhar ele vai acabar com a gente!
Ela lançou um olhar febril de puro excitamento. Toda aquela fragilidade não passava de uma casca de sedução. Os dois já estavam corrompidos. Não existe alma que fique tanto tempo perto dos demônios que não apodreça.
─ Você vai matar a gente?
─ É claro que vai!! Olha a cara dele!
─ Exatamente... ─ Comecei a me aproximar. Não senti o medo, mas uma outra forma de prazer.
─ Você vai se aproveitar da gente antes?
─ Por que eu me aproveitaria se estou com fome?
─ Como assim fome? ─ perguntou a incrédula menina.
─ Que horror!! O cara é um canibal!
─ Não... Comprei o sangue de vocês!! ─ Queria dar um fim naquela conversa surreal!
─ Então você vai morder o meu pescoço!
─ Só o seu não!! O meu também!! Merda...
─ Você não vai atender a um último pedido da gente?
─ Ela tem razão nós nunca fizemos isso com um... vampiro... se é que você é um vampiro mesmo!
─ O que vocês poderiam querer de mim?
─ Você faz sexo?
─ Ficou louca? ─ Gritou o garoto ─ O cara quer matar e tomar o meu sangue e você ainda quer trepar com ele?
─ Você dois vão fazer comigo!! Se é minha última vez que seja muito boa!
O garoto balançava a cabeça de um lado para o outro. Discordava da irmã mas era completamente dominado por uma estranha força que a menina emanava.
─ E quando eu estiver chegando ao fim você me morde!! Quero sentir o prazer e a dor ao mesmo tempo! Orgasmo e morte!!
Fiquei imaginando quantos anos aquela menina teria e o quanto ela já havia passado para chegar a esse tipo de conclusão.
Era uma chance tentadora. Mesmo para mim aquela era uma oportunidade rara.
Controlei a fome e me entreguei ao estranho prazer daqueles gêmeos. Deixei que línguas percorressem meu corpo. Percorri os dois corpos com língua e dentes. Penetrei naqueles corpos imberbes e me deixei penetrar por eles.
Não suportando mais mordi o pescoço do menino que não teve tempo de gritar. A gêmea encarou meu rosto manchada de vermelho e sorriu para mim . Alisou o corpo do irmão.
─ Pobrezinho...Ele não entende que só assim a gente podia fugir!
─ Você o amava?
─ Como só dois gêmeos poderiam... Por favor, agora é a minha vez! Venha!
Penetrei novamente em seu corpo e aguardei a ordem que ela daria quando estivesse pronta. Pouco antes do orgasmo eu mordi. O sangue e sexo. Foi como se eu estivesse tirando sua virgindade. O que de certa forma poderia estar acontecendo.
O gosto metálico e um pouco adocicado do seu sangue foi uma das coisas mais deliciosas que provei. Mordi seu sexo também para extrair dele um novo sabor. Era boa aquela mistura dos nossos corpos com sangue.
Minhas mãos e meu rosto eram de um vermelho vivo e brilhante.
Olhei aquelas duas lindas criaturas que se misturavam dentro do vermelho vivo do sangue fresco.
Sai do quarto e não encontrei mais o velho porteiro. Já esperava isso. Apenas toalhas brancas e limpas. Uma bacia de água. Lavei o sangue de meu corpo e, saciado, encontrei a noite se despedindo. Tinha que me apressar para chegar em casa antes do sol.
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