O mar se misturava com a noite no horizonte. A lua esparramava prata sobre sua superfície encrespada pelas poucas ondas de espuma branca. Apenas minha presença maculava a beleza daquela praia. Parei para admirar o oceano profundo e a moça morena que brincava em suas pequeninas ondas. Ela cantava docemente para sua mãe no mar. Iemanjá aquietava o mundo para ouvir sua filha. O vestido branco parecia feito de ondas que a brisa agitava levemente. Se agachava cantando e apanhando um pouquinho de água que escorria pelos seus braços morenos.
Esperei ela acabar e me aproximei. Me surpreendeu sua serenidade ao me ver.
─ Para quem você cantava?
─ Para a rainha do mar... - Me falou rindo, um pouco envergonhada. - Parece bobagem...
─ Não... Cantar nunca é bobagem...
─ Eu adoro o mar! - Aponta para as ondas - Minha mãe e protetora!
─ Ela te protege de que?
─ Das coisas ruins que podem acontecer!
─ Ela não deixa acontecerem coisas ruins?
─ Não! - sorrindo um riso de dentes brancos - Ela me dá força para vencer as dificuldades.
─ E você está em dificuldades agora? - Seus cabelos cheiravam plantas marinhas e sal. Era estranhamente bom.
─ Porque estaria?
─ Está sozinha numa praia com um estranho... Você não tem medo?
─ Não temo as criaturas da noite, Hamlet!
─ Hamlet?
─ É! Você é cheio dos por quês! Ser ou não ser...
─ Você é bastante estranha para sua pouca idade! - Provoquei outro sorriso branco. Sem me responder ela caminhou em direção ao mar. Antes de se perder em meio as ondas e a escuridão me falou num sussurro que poderia ensurdecer o mundo:
─ A eternidade que você irá viver eu já vivi!
Ouvi essa frase como uma música. Ela cantava para mim. Eu queria ir com ela para o fundo do mar, para os braços da rainha dos oceanos e saborear aquela felicidade. Mas eu sou um ser da noite e do ar. Voltei para minha casa de janelas e portas vedadas com o sol nos meus calcanhares e uma música que não deixava minha cabeça. A mais bela melodia que um mortal ou imortal poderia ouvir. Tive sonhos perturbadores com uma sereia de dentes muito brancos que sangrava na praia para alimentar sua criatura da noite. Toda a ira da senhora dos oceanos recaia sobre essa criatura amaldiçoada que se transformava em um tubarão condenado a singrar para sempre as profundezas escuras de um oceano infinito enquanto a sereia morena definhava na areia da praia deserta.
Acordei banhado em suor e com meu quarto cheirando a plantas marinhas e sal. Um cheiro estranhamente bom.
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Gostei do estilo... o texto é sagaz, porém com um toque de sensibilidade!
ResponderExcluirCurti o blog! (Bem parecido com vc)
Demais Cavalo!!!
ResponderExcluirQnd leio seus posts eu fico hipnotizado cara!
sério mesmo!
Você consegue escrever uma história sobre vampiros, no Brasil....e ainda ser muito boa! Coisa que é extremamente difícil de fazer. Bem escrita, decritiva e com ótimo enredo!
show cara! parabéns!! posta mais ae!
E VV na veia!
Um abraço!